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29/11/2023

Despejo de Filhos Adultos: Um Olhar sobre a Jurisprudência Brasileira

No cenário jurídico internacional, um recente caso na Itália chamou a atenção, onde uma mãe de 75 anos obteve sucesso ao processar seus filhos adultos por não contribuírem financeiramente e negligenciarem as responsabilidades domésticas.

Essa situação levanta questionamentos sobre como a legislação brasileira aborda casos semelhantes.

Este artigo explora as nuances legais envolvidas e analisa a possibilidade de situações semelhantes ocorrerem no Brasil.

 

Contextualização do Caso Italiano

A decisão da juíza Simona Caterbi na Itália ressalta a importância de considerar fatores além da idade na avaliação das responsabilidades familiares. A justificativa de que a idade dos filhos não é suficiente para eximir a mãe de suas obrigações financeiras destaca um dilema que pode ser aplicado ao contexto brasileiro.

 

Legislação Brasileira e a Responsabilidade Familiar

No Brasil, não há uma legislação específica que trate diretamente da obrigação dos filhos adultos em contribuir financeiramente para os pais idosos. No entanto, o Código Civil estabelece a responsabilidade dos filhos em prestar assistência material e moral aos pais na velhice. Esse dever é pautado nos princípios da solidariedade familiar.

Essa obrigação reflete valores fundamentais de solidariedade familiar, reconhecendo a importância do apoio mútuo entre gerações. Vamos examinar os artigos que fundamentam essa responsabilidade e entender como essas normativas contribuem para a proteção dos idosos.

 

Código Civil Brasileiro:

  1. Artigo 1.696: O Código Civil, em seu Artigo 1.696, estabelece a obrigação dos descendentes em prestar assistência material aos ascendentes necessitados. Esse dispositivo legal destaca a importância da solidariedade familiar, impondo aos filhos a responsabilidade de prover sustento e cuidados aos pais idosos que não possuam meios para se sustentar.
  2. Artigo 1.697: O Artigo 1.697 do Código Civil reforça a ideia de assistência material, estendendo a obrigação aos descendentes em primeiro grau. Dessa forma, não apenas os filhos, mas também os netos podem ser chamados a cumprir essa responsabilidade, criando uma rede de apoio que visa assegurar o bem-estar dos idosos.

 

Estatuto do Idoso:

  1. Artigo 3º: O Estatuto do Idoso, Lei nº 10.741/2003, complementa o Código Civil ao estabelecer princípios específicos para a proteção e garantia dos direitos dos idosos. O Artigo 3º destaca a responsabilidade da família, da comunidade, da sociedade e do poder público em assegurar ao idoso o direito à dignidade, à vida, à alimentação, à saúde, à educação, à cultura, ao esporte, ao lazer, ao trabalho e à cidadania.
  2. Artigo 43: O Artigo 43 do Estatuto do Idoso trata diretamente da responsabilidade dos filhos em prestar assistência moral aos pais idosos. Ele afirma que os filhos maiores têm o dever de ajudar e amparar seus pais na velhice, carência ou enfermidade.

 

Analisando a Possibilidade de Despejo no Brasil

Ao contrário da legislação italiana que permitiu o despejo dos filhos adultos, o ordenamento jurídico brasileiro tende a abordar a questão de forma mais cautelosa.

O despejo de familiares, é uma matéria delicada e deve ser avaliada considerando as circunstâncias específicas de cada caso.

 

Paralelo com a Realidade Brasileira

No Brasil, a tradição cultural de apoio familiar é forte, e a coabitação de diferentes gerações sob o mesmo teto é comum. A situação econômica do país e a dificuldade dos jovens em conquistar independência financeira também influenciam esse padrão. Dessa forma, é menos provável que casos semelhantes ao ocorrido na Itália sejam julgados da mesma forma no Brasil.

 

Considerações sobre a Solidariedade Familiar

Embora o Brasil não tenha uma legislação específica sobre despejo de filhos adultos, é fundamental ressaltar a importância da solidariedade familiar. O Código Civil, ao preconizar o apoio mútuo entre familiares, destaca a responsabilidade de filhos em auxiliar seus pais idosos.

 

O caso na Itália serve como ponto de reflexão sobre as dinâmicas familiares e as diferenças entre os sistemas legais de diversos países. No Brasil, a abordagem tende a ser mais centrada na solidariedade familiar, com poucos precedentes para casos de despejo de filhos adultos.

Entender as nuances legais e culturais é crucial ao considerar questões que envolvem a coabitação de diferentes gerações na mesma residência.

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